Educação & Arte FORMAR, LER, ENSINAR, ESCREVER, ACREDITAR, APRENDER, FALAR, VIVER, MOSTRAR, ENTENDER, DEMONSTRAR, SER, ABORDAR, FAZER, IMAGINAR, CRER, PINTAR... VER... ENFIM... OLHAR... CRIAR... É UM POUCO DE TUDO E UM POUCO DO NADA QUE NASCEM EDUCADORES, ARTISTAS, ALUNOS, PROFESSORES, CRITICOS, OBSERVADORES...
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segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014
A ESCOLA DOS MEUS SONHOS
"Na escola de meus sonhos, os alunos aprendem a
cozinhar, costurar, consertar eletrodomésticos, fazer pequenos reparos de
eletricidade e de instalações hidráulicas, conhecer mecânica de automóvel e de
geladeira, e algo de construção civil. Trabalham em horta, marcenaria e
oficinas de escultura, desenho, pintura e música. Cantam no coro e tocam na
orquestra.
Uma semana ao ano integram-se, na cidade, ao
trabalho de lixeiros, enfermeiras, carteiros, guardas de trânsito, policiais,
repórteres, feirantes e cozinheiros profissionais. Assim, aprendem como a
cidade se articula por baixo, mergulhando em suas conexões subterrâneas que, à
superfície, nos asseguram limpeza urbana, socorro de saúde, segurança,
informação e alimentação.
Não há temas tabus. Todas as situações-limites da
vida são tratadas com abertura e profundidade: dor, perda, falência, parto,
morte, enfermidade, sexualidade e espiritualidade. Ali os alunos aprendem o
texto dentro do contexto: a matemática busca exemplos na corrupção dos
precatórios e nos leilões das privatizações; o português, na fala dos
apresentadores de TV e nos textos de jornais; a geografia, nos suplementos de
turismo e nos conflitos internacionais; a física, nas corridas da Fórmula 1 e
pesquisas do supertelescópio Hubble; a química, na qualidade dos cosméticos e
na culinária; a história, na violência de policiais a cidadãos, para mostrar os
antecedentes na relação
colonizadores/índios, senhores /escravos, Exército/Canudos etc.
Na escola dos meus sonhos, a interdisciplinaridade
permite que os professores de biologia e de educação física se complementem; a
multidisciplinaridade faz com que a história do livro seja estudada a partir da
análise de textos bíblicos; a transdisciplinaridade introduz aulas de meditação
e de dança, e associa a história da arte à história das ideologias e das
expressões litúrgicas.
Se a escola for laica, o ensino religioso é plural:
o rabino fala do judaísmo; o pai
de santo do candomblé; o padre do catolicismo; o médium do
espiritismo; o pastor do protestantismo; o guru do budismo etc. Se for
católica, promove retiros espirituais e adequação do currículo ao calendário
litúrgico da Igreja.
Na escola dos meus sonhos, os professores são
obrigados a fazerem periódicos treinamentos e cursos de capacitação, e só são
admitidos se, além da competência, comungam com os princípios fundamentais da
proposta pedagógica e didática. Porque é uma escola com ideologia, visão de
mundo e perfil definido sobre o que são democracia e cidadania. Essa escola não
forma consumidores, mas cidadãos.
Ela não briga com a TV, mas leva-a para a sala de
aula: são exibidos vídeos de anúncios e programas e, em seguida, analisados
criticamente. A publicidade do iogurte é debatida; o produto, adquirido; sua
química, analisada e comparada com a fórmula declarada pelo fabricante; as
incompatibilidades denunciadas, bem como os fatores porventura nocivos à saúde.
O programa de auditório de domingo é destrinchado: a proposta de vida
subjacente; a visão de felicidade; a relação animador/plateia; os tabus e
preconceitos reforçados etc. Em suma, não se fecha os olhos à realidade;
muda-se a ótica de encará-la.
Há uma integração entre escola, família e
sociedade. A Política, com P maiúsculo, é disciplina obrigatória. As eleições
para o grêmio ou diretório estudantil são levadas a sério e um mês por ano
setores não vitais da instituição são administrados pelos próprios alunos. Os
políticos e candidatos são convidados para debates e seus discursos analisados
e comparados às suas práticas.
Não há provas baseadas no prodígio da memória nem
na sorte da múltipla escolha. Como fazia meu velho mestre Geraldo França de
Lima, professor de História (hoje romancista e membro da Academia Brasileira de
Letras), no dia da prova sobre a Independência do Brasil os alunos traziam à
classe toda a bibliografia pertinente e, dadas as questões, consultavam os
textos, aprendendo a pesquisar.
Não há coincidência entre o calendário gregoriano e
o curricular. João pode cursar a 5ª série em seis meses ou em seis anos,
dependendo de sua disponibilidade, aptidão e recursos.
É mais importante educar que instruir; formar
pessoas que profissionais; ensinar a mudar o mundo que a ascender à elite.
Dentro de uma concepção holística, ali a ecologia vai do meio ambiente aos cuidados
com nossa unidade corpo/espírito, e o enfoque curricular estabelece conexões
com o noticiário da mídia.
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