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sábado, 24 de abril de 2010

OS SETE URUBUS

Houve, em outros tempos, uma viúva que tinha oito filhos, sendo sete rapazes
e uma menina. Esta, apesar de ser muito pequena, já era muito linda e muito dócil; os
sete irmãos, ao contrário, eram tão maus e desobedientes, que ao velho avô se tornava impossível governá-los.
Um dia, aconteceu que os sete rapazes brincaram fora de casa mais tempo do que lhes havia sido concedido e não atenderam à ordem de sua mãe, que os chamara. Afinal, resolveram voltar para casa, mas entraram fazendo muito barulho e malcriações. A mãe, indignando-se com o mau procedimento dos filhos, exclamou:
— Acomodem-se, meninos perversos! Urubus malditos!
Mal acabara de pronunciar essas palavras, eis que os rapazes se transformaram em sete
urubus, que principiaram a grasnar e a voar, e saíram, por fim, pela janela que estava aberta,desaparecendo no horizonte.
A mãe e o avô ficaram aterrorizados diante de tão triste espetáculo e a irmãzinha,
compreendendo a terrível situação, começou a chorar, consolando-se somente quando a mãe e o avô lhe disseram que certamente os irmãos voltariam para casa, novamente transformados em meninos,como eram antes.
Passaram-se muitos anos e os irmãos não voltaram; a mãe e o avô já tinham perdido a
esperança de tornar a vê-los. Somente a irmãzinha, por essa época, uma moça muito linda, continuava a alimentar a esperança de vê-los um dia voltar para casa.
Não podem ter voado para fora do mundo, pensava ela. Irei procurá-los por toda parte
porque, se não o fizesse, não teria paz durante toda a minha vida.
Assim resolvida, pediu licença a sua mãe e ao avô e, despedindo-se, partiu, levando um cesto com mantimentos e um banquinho para descansar.
Em todas as aldeias onde chegava, perguntava se não tinham visto os sete urubus, ao que todos respondiam negativamente.
Por esta forma, andou durante muito tempo, sem encontrar vestígio de seus infelizes irmãos.
Uma tarde, achando-se muito fatigada, deitou-se perto de um bosque e adormeceu. Ao
despertar, viu brilhar no firmamento a estrela d'alva, que fazia refletir sobre ela o seu brilho
resplandecente; diante de tão sublime espetáculo, não pôde deixar de exclamar:
Oh! tu, estrela tão linda,
A ti, peço, estendo a mão.
Procuro, choro por eles,
Dize-me tu, onde estarão?
A linda estrela logo se transformou em um galante menino, de cabelos loiros e anelados,
vestido de branco, que, descendo do céu, lhe disse, entregando uma chave de ouro:
Habitam os teus irmãos
no cimo do Montebelo;
Toma esta chave, menina.
Abre a porta do Castelo.
Depois tornou a subir para o céu, desaparecendo através das nuvens. A menina, muito
contente, começou logo a caminhar na direção indicada e dentro em breve achou-se no Castelo do
Falcão.
Neste castelo, tinha morado antigamente um conde, em companhia de um único filho; não se sabe porque, um dia, uma fada má dissera ao pobre pai:
— Seu filho será transformado em um falcão feroz, até que a estrela d'alva lhe mande uma noiva. Todas as suas riquezas serão escondidas em uma caixinha e você será transformado em um
anão para guardá-las. Quando chegar a noiva do falcão, poderá entregar-lhe a caixa, acabando nessa
ocasião o seu encanto e o de seu filho.
A fada desapareceu e a sua predição imediatamente se realizou: o belo jovem se transformou em um falcão feroz e o conde em anão de barbas brancas. Tudo o que existia no castelo
desapareceu, ficando nele somente as salas vazias, uma caminha, uma mesa e a caixinha fechada.
Fôra neste triste e sombrio palácio que os sete urubus acharam guarida, depois de terem vagado durante muito tempo pelo espaço. Ao se apresentarem, eles juraram fé ao falcão e prometeram não o abandonar, até que para todos chegasse o dia da libertação de tão horrível
encanto.
Ao chegar ao castelo, a jovem, encontrando a porta fechada, tocou com a chave de ouro na fechadura, aparecendo, logo o anão, que lhe perguntou o que queria.
— Aqui vim - respondeu ela - por ordem da estrela d'alva, à procura dos sete urubus.
Ouvindo isso, o anão inclinou-se reverentemente diante dela e respondeu:
— Os urubus não estão em casa; foram à caça juntamente com o falcão, meu filho. Convidoa
a esperar até a meia-noite, pois estou certo que ficarão alegres e satisfeitos em vê-la aqui quando
voltarem.
E assim falando, o anão a fez subir para o quarto, acrescentando:
— Como vê, a mesa está posta e a cama feita; espero que coma e beba à vontade e que
depois durma até o despontar da madrugada.
A jovem, aceitando com prazer o convite, serviu-se das finas iguarias e vinhos que estavam
sobre a mesa, deitando-se, em seguida, e adormecendo com um sono tão profundo, do qual não
despertou nem com o ruído que os urubus e o falcão fizeram ao se recolherem.
Estes haviam chegado à meia-noite e o anão, muito alegre, logo lhes disse:
— Silêncio! No aposento da torre está dormindo uma jovem que a estrela d'alva nos enviou.
— É a minha noiva! - gritou alegremente o falcão, subindo apressadamente a escada que
conduzia ao aposento onde a jovem dormia.
Ao entrar no quarto, devido talvez à emoção, não lhe possível ver o seu rosto. Por esse
motivo, muito triste, tornou a descer a escada à procura dos companheiros.
Preocupados, os sete urubus juntaram-se ao seu amigo falcão e ao anão e subiram todos
juntos para ver o que havia de verdade.
Ao entrar, viram sobre a cama, deitada e adormecida, uma jovem muito formosa. Sentaramse
ao redor do leito e seus olhos fitaram, com alegria e espanto ao mesmo tempo, o gentil rosto da
jovem.
Passada a primeira emoção, o urubu mais velho disse para os seus irmãos:
— Não me resta a menor dúvida de que esta jovem é a nossa querida irmã. Como está
crescida e formosa!
— É verdade! - acrescentou o segundo - É mesmo a nossa boa irmãzinha; reconheço-a pelos
seus cabelos loiros e ondulados.
— E eu, pelas suas lindas faces.
— E eu, pela interessante covinha.
— E eu, reconheço-a muito bem pelas suas lindas mãozinhas.
— E eu, pelo anel que usa.
— E eu, decerto a reconheceria também, - disse o último - se ela abrisse seus belos olhos;
oh! se ela isto fizesse, logo poria termo ao mau encanto que nos persegue!
Os sete irmãos resolveram logo acordar a menina, mas o anão a isso se opôs, dizendo:
— Pelo amor de Deus, não façam isso! O que devem fazer é transportá-la imediatamente
para a casa de sua mãe, visto que, para que seja quebrado o nosso encanto, necessário é que ela saia
deste castelo durante o sono.
Dito isso, o anão colocou no colo da menina a caixinha que encerrava as suas riquezas.
— Quando ela despertar em casa de sua mãe, imediatamente todos nós ficaremos livres do
encantamento.
Momentos depois, os sete urubus transportaram sua irmãzinha para a casa de sua mãe e
depois que ali a deixaram, voltaram apressados para o castelo encantado.
Algum tempo depois, a jovem despertava e sua mãe e o avô, encarando-a assustados,
perguntaram-lhe:
— Então, onde estão seus irmãos?
— Eles também hão de vir. - respondeu a menina. Dizendo isso, entrou no quarto e abriu a
caixinha com a chave de ouro. E querem saber o que dentro dela havia? Nada mais, nada menos que
um pequeno espelho.
A jovem tirou-o da caixinha e ao colocá-lo diante dos olhos, as suas faces tingiram-se de
vivo carmim, pois a sua imagem vista no espelho apresentava-se adornada de ouro e pedras
preciosas, como se fora a noiva de um rei.
Ainda se achava sob a impressão de tão agradável surpresa e eis que, como que por encanto,
surge à sua frente o jovem filho do conde do Castelo do Falcão, acompanhado pelos seus sete
irmãos, então já sob a forma de esbeltos moços.
Eles abraçaram e beijaram sua mãe e seu avô; e o conde, com grande satisfação, pediu que
concedessem a jovem para esposa do filho, no que foi atendido com grande contentamento de
todos.
Uma alegria contagiante invadiu então o sombrio Castelo do Falcão, onde reapareceu o luxo
e o brilhantismo dos tempos passados e ali se celebrou o mais feliz e festejado casamento de que há
memória. Os sete irmãos, depois da penosa lição, tornaram-se homens estimados e dignos pelo resto
da vida.
Coleção Reino Infantil - Volume 1

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