Total de visualizações de página

sábado, 10 de julho de 2010

ENSINA-SE ORTOGRAFIA APÓS A ALFABETIZAÇÃO?

A gramática tem em si um significado que na maioria das vezes se encontra desvinculada do ensino da Língua Portuguesa.
A escrita de uma simples palavra transmite em si um significado explicitado, e por detrás desse significado da palavra encontramos regras pré-estabelecidas para a grafia desta que podem libertar o leitor-escritor por conhecê-las, ou, domínio por falta de conhecimento, até mesmo na simples maneira de grafá-la.
A sociedade na sua construção histórica convencionou e determinou certas regras. O aluno deve adquirir este saber para ter uma escrita considerada correta pela sociedade em que vive e atua.
A comunicação se encontra ligada a escrita e a oralidade sendo que a escrita representa a fala e não se escreve como se fala, pois as regras determinam a estratégia certa para a grafia de uma palavra formada por letras e que podem ser representadas por apenas um fonema, como por exemplo a palavra abacate, poderia ser escrita: abakate, abacati, abakati, etc. porém só há uma forma correta, pode até não ser a forma mais lógica e mais prática, mas é estabelecida como correta.
A ortografia (orthos-correta; grafia- escrita) é uma parte atuante da gramática normativa e carrega em si um processo histórico de registro escrito dos sons da fala.
Para compreender a importância da ortografia no ensino escolar é necessário conhecer seu processo histórico.

A FONÉTICA E A ETIMOLOGIA

A origem de uma palavra da Língua Portuguesa tem suas raízes no latim e no grego, que ao mesmo tempo que se contrapõe, também combina com a fonética (que busca a relação da letra com o fonema) na formação das palavras.
A relação produzida entre os sons orais e as letras escritas, tem maior ênfase na história da Língua Portuguesa escrita no período do século IX ao XVI, conhecido como período arcaico, denominado de período fonético devido a ênfase dada na reprodução da fala na escrita.
A partir do século XVI até o início do século XX caracterizou-se o período pseudo-etimológico pela tentativa da reprodução da grafia das palavras na sua forma original (real ou inventada), acrescentando letras sem valor fonético, e mais de uma letra para um mesmo fonema.
Em 1904 foi publicada a Ortografia Nacional sofrendo uma reforma em 1943.
Nos dias atuais é adotado o sistema simplificado que carrega a fonética, (em que as escrita representa a fala), a etimologia, (conservando a origem das palavras) e a pseudo-etimologia, ( em que criou-se origens). O nosso sistema ortográfico, no entanto pode ser classificado como (fonético-etimológico).

POR QUE ORTOGRAFIA?

A fala e a escrita possuem diferenças na sua relação, por isso um sistema ortográfico não pode estar baseado somente na fonética ou somente na etimologia, pois se escrevêssemos como se fala, criaríamos várias formas de escrever uma só palavra, extinguindo com isso a ortografia, ou criando diversas outras ortografias.
O processo de aprendizado e uso da leitura e da escrita precisa levar em conta o pleno domínio da ortografia, pois são formas reconhecidas como válidas pela sociedade. O escritor deve dominar os conceitos ortográficos para poder explicitar-se e ter uma comunicação aceitável. Já o leitor, para que entenda um texto e tenha um visão geral, é necessário que primeiro ele decodifique as grafias existentes no texto, pois a não decodificação da ortografia correta, mesmo que ele seja um leitor experiente perderá o significado.
Os professores atualmente, no ensino de primeiro grau, argumentam que o ensino da ortografia não deve se enfatizado, pois a ênfase deve ser dada na criação de textos, para que a criança tenha liberdade de expressão de seus sentimentos e da sua vivência.
A ortografia também tem sido usada como instrumento de avaliação e desqualificação de um texto produzido pelo aluno devido aos erros ortográficos. Os professores acaba por caírem em dois extremos: ou se ensina ortografia com exercícios alheios ao texto, por meio de palavras e frases soltas, ou se enfatiza a produção de texto considerando a ortografia como uma construção da criança no decorrer dos anos escolares, sendo assim, observamos a ênfase sendo dada na construção individual, e não social.
Tanto a fala com a escrita é uma produção social e possui convenções estabelecidas socialmente e é de fundamental importância que o aluno, na sua vida escolar inicial, aproprie-se desta forma de escrita tida como padrão, assim também como a fala considerada como padrão social, para que esse aluno seja um individuo atuante na sociedade e não somente valorizado na sua escrita individual como forma de expressão.
Tanto a escrita como a fala, como forma de comunicação que carrega em si significado e regras, precisam ser aprendidas.
A comunicação escrita é uma atividade cultural muito complexa, em que é desenvolvida pelos alunos por meio de processos cognitivos de concentração, memorização, atenção, etc. e não de maneira mecanizada como pensa-se em relação a apropriação de técnicas ortográficas, ou até mesmo da caligrafia, que não se reduz a coordenação motora no desenho das palavras, mas num processo cognitivo.
A aquisição de regras ortográficas pode ser feita por meio de diferentes estratégias. Quando corrige-se as palavras tiradas de um determinado texto produzido pelo aluno e ensina-lhe a maneira correta de escreve-la, usa-se o processo de memorização, em que a criança memoriza a maneira correta de escrever aquela determinada palavra sem dar conta da regra que determina aquela forma de escrita, essa estratégia pode ser alcançada também por meio da correção de "ditados" (palavra etimologicamente ligada com a palavras: ditadura).
A vantagem dessa estratégia é que o aluno memoriza todas as palavras, inclusive aquelas que não se enquadram nas regras.
O nosso sistema alfabético possui a vantagem de reduzir a memorização de palavras como símbolos da fala mas usa-se as letras numa combinação para registrar os fonemas, sendo que o uso dessa estratégia sobrecarrega o aluno na memorização de milhares de palavras para poder grafar corretamente.
Uma outra estratégia é a explicação das regras existentes na construção das palavras ligadas a etimologia e na aquisição das regras gramaticais.
O aluno ao se deparar com uma dúvida ortográfica na grafia de uma palavra cria um processo para se chegar a escrita correta; esse processo denominado de técnica para utilização de regras convencionadas socialmente.

Nenhum comentário:

Postar um comentário